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segunda-feira, 30 de maio de 2011

Diga com quem andas

Fora os relógios e os chocolates, o que lhe vem à cabeça ao pensar na Suiça? Alpes? Talvez. No momento me vem à mente contas bancárias sigilosas. Aquelas cujo titular é definido por uma longa sequência de números. Pois bem, não é segredo para ninguém que os suíços, assim como a Justiça daquele país, nunca ligaram muito para a procedência dos milhões de dólares e euros depositados em seus cofres.

Mas, sempre há razões para se surpreender. Eis que a Justiça suíça coloca no banco dos réus o excelentíssimo dono do futebol brasileiro, o Ricardo “Mubarak” Teixeira. Motivo: envolvimento em supostos recebimentos de propina como membro da Fifa, cuja sede fica na Suiça. Ou seja, se a Suiça, que já é um tanto quanto receptiva aos maus costumes, resolve investigar um ato corrupto, é porque aí tem.

E tinha! Ricardo do Teixeira e o ex-presidente da Fifa, João Havelange, receberam dinheiro de propina da ISL, falida empresa de marketing esportivo que detinha os direitos de TV das Copas do Mundo na década de 1990. No total, estima-se que essa brincadeira tenha beirado os US$ 100 milhões. Mas, como estamos falando da Suiça e sua surpreendente legislação, bastou um acordo para resolver a parada. Teixeira devolveu uma parte da grana e ficou por isso mesmo. E, para evitar constrangimentos aos donos do futebol, os documentos da investigação ficaram em segredo de (in)justiça.

No entanto, onde há cheiro de m..., para o azar da Fifa e do R$icardo Teixeira, há jornalistas bem informados. E toda essa história que acabo de contar veio à tona na segunda-feira passada, quando o programa Panorama, da BBC, revelou que o mandatário brasileiro foi forçado a devolver dinheiro de propina. Como era de se esperar, nem Teixeira, muito menos o Ministério do Esporte, que também foi citado na reportagem, se pronunciaram sobre o caso.

Tudo isso aconteceu, é claro, com o conhecimento do presidente da Fifa. O senhor Joseph Blatter, aliás, é outro que a cada dia fica mais vulnerável ao próprio poder. Na frente das câmeras, de olho na eleição presidencial da entidade que ocorrerá dia 1º de junho, defende reformas e o fim da corrupção. Mas, efetivamente, pouco faz. Vale lembrar que ele também está atolado até a cabeça com as suspeitas de suborno para a escolha das sedes da Copa do Mundo de 2018 e 2022, que serão na Rússia e no Qatar, respectivamente.

A luz no fim do túnel dessa história é a Inglaterra, cuja federação de futebol ameaça romper com a Fifa. Isso porque o país, quando candidato a receber a Copa de 2018, recebeu apenas um voto, além do próprio, e denunciou a existência de suborno na entidade envolvendo a candidatura do Qatar. Nada impede que uma nova liga internacional de futebol seja criada. Apesar de isso parecer um tanto quanto distante, seria ótimo surgir uma alternativa às práticas corruptas que irrigam as veias da Fifa.

O certo é que onde há homens e, principalmente, acumulo de poder, há também corrupção. Estamos cheios desses exemplos, que se renovam a cada dia. É certo também que, no final das contas, o torcedor quer mesmo é bola na rede... e para a maioria pouco importa saber quem manda nisso tudo.

Ps: O catariano Mohamed Bin Hammam, que seria rival de Blatter nas eleições de quarta-feira, foi suspenso pelo Comitê de Ética da Fifa por compra de votos. Já Blatter foi inocentado da acusação de saber dos subornos e nada fazer. Ou seja, sendo candidato único, Blatter seguirá na presidência da Fifa até 2015.


4 comentários:

  1. Acho impressionante o quanto as entidades esportivas têm poder de mandar e desmandar. Pq não há um órgão que as fiscalize?

    Ouvi falar que na Alemanha eles peitaram a FIFA e não fizeram todas as exigências que a toda poderosa havia solicitado. Já aqui no Brasil estamos abrindo as pernas...

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  2. A escolha do Catar para receber a Copa do Mundo foi algo realmente bizarro e constrangedor. O que os patrocinadores da FIFA estão achando disso? É bom vincular uma marca à FIFA? E o e-mail do Jérome Valcke?

    A FIFA tem um poder paralelo. Os membros da comissão de ética da entidade, que investigam supostos subornos e pagamentos de propina, são indicados pelo próprio Blatter. Aí realmente fica fácil.

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  3. Ontem, nos debates esportivos, falaram justamente isso dos patrocinadores. Parece que a Coca-Cola tá puta com a FIFA. Também falaram que a escolha do Catar pode ser revogada por conta da compra de votos.

    Será?

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  4. Talvez seja a única forma de manter a seriedade do evento. Apesar de que o Jérome Valcke já disse que foi mal interpretado... É esperar pra ver.

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