Por Henrique Hallack, o convidado apaixonado da semana.
Juiz de Fora é terra de exilados quando se lembra de futebol. São milhares de fanáticos, carentes de uma arquibancada próxima. Flamengo, Botafogo, Corinthians, Fluminense, São Paulo, Vasco, Palmeiras, Cruzeiro e Atlético são nomes fáceis de serem ouvidos em uma rápida volta pelo centro da cidade. Discussões mais do que vivas, entusiasmadas, entre torcedores que não perdem um jogo e apesar da distância, sabem tudo do seu time.
Por aqui também temos gritos entre vizinhos, pessoas que faltam à aula no dia seguinte de derrotas, ansiedade e tensão antes dos jogos, torcidas organizadas na cidade, caravanas pros estádios...
E no meio desse ‘auê’ todo, tem também o Tupi. Time querido pela cidade, podemos dizer que é um órfão abraçado por todos os torcedores. Claro, temos os fanáticos pelo Tupi e mais nada. Tribo Carijó, Império Alvinegro e Tupinga são algumas das organizadas.
E em meio à essa reta final emocionante de Brasileirão, vimos o Tupi chegar às decisões da Série D. Creio que a reviravolta que culminou com o título e o consolidado acesso à Série C começou nas oitavas de final, quando o galo Carijó enfrentou o Volta Redonda, considerado um dos melhores times da competição até o momento. Primeiro jogo em Volta Redonda: 1 a 0 Voltaço aos 47 do segundo tempo. Tarefa difícil para o Tupi (os critérios do mata-mata são idênticos aos da Copa do Brasil). Jogo da volta em Juiz de Fora: Volta Redonda vence o Tupi no estádio Helenão por 2 a 1 até meados do segundo tempo, até que com direito a golaço de voleio, acontece o improvável. Final de jogo e o placar mostrava: 4 a 2 Carijó!
Quando parecia que o time ia embalar, disputas no STJD fazem o Tupi ter que esperar três semanas pelo próximo adversário, com quem o time iria disputar a sonhada vaga para a Série C. Muitos pensaram que o time iria perder o ritmo de jogo, mas na verdade esse tempo serviu para recuperar o que viria a ser o principal jogador do time nesta reta final: Ademílson.
O Pantera Negra da Zona da Mata, cidadão honorário de Juiz de Fora, marcou nada menos do que sete gols entre quartas de final até a decisão.
O adversário do Galo por uma vaga na série C seria o Anapolina, time de Goiás com força nos bastidores e um bom apoio financeiro. Foram três gols de Ademílson na primeira partida entre Tupi e Anapolina e dois na partida de volta – selando o acesso.
Muitos pensaram: “tá ótimo, subir já é mais do que o suficiente”. Mas não, o Tupi não parou por aí. Assegurada a vaga na C, o Carijó passou fácil pelo Oeste nas semifinais e se viu frente a frente com o Santa Cruz, time com maior média de publico do Brasil.
Primeiro jogo da decisão em Juiz de Fora. Estádio Helenão lotado, mesmo com os times da série A jogando no mesmo horário. Resultado: 1 a 0 gol de… Ademílson! Em Recife, com Arrudão lotado, Tupi segura o time do Santa Cruz e no final do jogo faz 2 a 0. Festa em Juiz de Fora!
Esse time fez a alegria dos juizforanos, principalmente porque em 2012 é certo: as arquibancadas do Estádio Radialista Mário Heleno não ficarão solitárias.
Não podemos deixar de lembrar algumas das peças importantes deste título histórico: o zagueiro Wesley Ladeira (autor do golaço de voleio contra o Volta Redonda), o goleiro Rodrigo, o meia Luciano Ratinho (aquele mesmo que já jogou no Corinthians) e Allan, o taxista de Juiz de Fora, oriundo dos campeonatos de várzea.
Veja abaixo os gols do jogo de volta contra o Volta Redonda, e os três gols de Ademílson contra o Anapolina.