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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Futebol, política e tragédia


Por Guilherme Reis

As cenas da batalha campal protagonizada por torcedores do Al Masry e Al Ahly, ontem à noite, no Egito, fizeram lembrar o quebra pau que palmeirenses e são paulinos promoveram no Pacaembu em 1995. As semelhanças entre os episódios, porém, acabam por aqui.

Naquele 20 de agosto, a estupidez humana causou uma morte. Ontem, foram 74. Além disso, já se fala que a tragédia no Egito teve motivação política.

Como todos sabem, há pouco mais de um ano, os egípcios foram às ruas para derrubar o então presidente Hosni Mubarak. Ainda não se pode afirmar, no entanto, que a revolução foi vitoriosa. O país está sob o comando das forças armadas e a sensação de insegurança é predominante.

Nos meus primeiros meses em Londres, dividi quarto com um egípcio. Ele me contou, certa vez, que os movimentos da praça Tahrir e a consequente queda de Mubarak fizeram com que a população experimentasse uma sensação de poder que, aliada a falta de representatividade política e imaturidade democrática, invariavelmente resultava em situações de barbárie.

Essan, meu ex roommate, explicou-me que a polícia não consegue mais execer sua autoridade no país. E que a força, em vez do diálogo, é o instrumento para resolver diferenças partidárias e ideológicas.

Junte esse cenário a uma partida de futebol entre dois adversários que carregam um histórico de confrontos e chega-se ao que se viu ontem à noite na cidade de Port Said.

Hoje, mais uma vez, milhares se reuniram na praça Tahrir para protestar contra o ocorrido. O Partido Liberdade e Justiça (PLJ), que possui metade das cadeiras do Parlamento e é o braço político da Irmandade Muçulmana, culpou os partidários do ex-presidente Hosni Mubarak pela violência no estádio.

A briga teria começado com ameaças do próprio time vencedor, Al-Masry, o que levantou suspeitas sobre um grupo infiltrado na torcida para iniciar o conflito. A torcida do Al-Ahly, conhecida como “Ultras”, participou ativamente das movimentações políticas de 2011, o que sustenta a teoria do PLJ. Sobraram, ainda, acusações contra a polícia e o exército, que teriam agido com negligência na solução do conflito.

O jogo terminou 3 a 1 para o Al-Masry, mas o placar final diz que o futebol, muitas vezes agente da paz, pode virar palco de guerra. Resta ao Egito resolver muitas coisas antes de ver a bola rolando.

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